Distanciado do Fórum Social Mundial (FSM) há três anos, o governo federal investiu pelo menos R$ 120 milhões na infraestrutura para a cidade de Belém (PA) sediar a nona edição do evento, que começa no próximo dia 27. Outros R$ 6,2 milhões - já liberados por emendas da bancada paraense na Câmara - serão destinados à estruturação do encontro. O governo e o PT vão ocupar boa parte do espaço do FSM 2009 e dos debates paralelos.
O presidente Lula estará acompanhado da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), sua candidata à sucessão em 2010. O PT mobilizou mais de dez mil militantes, além de centenas de personalidades petistas. Em 2002, Lula lançou sua candidatura no Fórum Social. Mas em sua última aparição no FSM, em 2005, chegou a ser vaiado, enquanto o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, era ovacionado em Porto Alegre.
Lula não irá este ano a Davos, por achar que as teses do Fórum Econômico Mundial foram responsáveis pelo abalo global. Ao público do FSM, ele atacará a especulação internacional e defenderá uma nova ordem econômica e política mundial.
Organizadores temem uso político do evento
O FSM, considerado o principal contraponto ao Fórum Econômico, reunirá cerca de 120 mil ativistas sociais de 130 países em sua nona edição. Parte dos articuladores do FSM teme o uso político. Considerado o criador do FSM, Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos e ex-assessor especial de Lula, avalia que o risco de o Fórum servir de palanque político existe: "O ruim é que essas manifestações políticas geram factóides políticos e ocupam mais a mídia que o Fórum em si, com todo o seu conteúdo. Se realmente houver algum uso por Lula ou pelo PT, que seja pelo menos para a criação de nova plataforma política realmente válida para o país", disse Grajew.
O foco principal do FSM será a crise global - econômica, climática e até a de governança. A Amazônia também será discutida. Maria Luísa Mendonça, outra articuladora do FSM, avalia que as consequências podem ser mais negativas que os factóides: "Pode ocorrer uma espécie de blindagem das críticas em relação ao modelo predatório que este governo tem adotado para a Amazônia, baseado em grandes projetos hidroelétricos, agrícolas e de mineração. Esse modelo é o mesmo adotado pelo regime militar e permanece na administração petista".
"Não acredito que haverá interferência do PT ou dos governos por causa dos investimentos. Agora, qualquer político quer um público de 120 mil pessoas do mundo todo. Risco de uso político sempre existe, mas o público do FSM é muito crítico - afirma Grzybowski.
Maior gasto será com segurança: R$ 52 milhões
Na lista oficial de benefícios federais para Belém, há desde R$ 13,6 milhões do Ministério da Educação em reformas das duas universidades federais que sediarão a maior parte do evento, até R$ 12,2 milhões do Ministério do Turismo para a recepção dos visitantes, além de R$ 36,7 milhões para a saúde pública, incluídos cem novos leitos hospitalares.
Mas o maior gasto, no entanto, foi com a segurança pública: R$ 52 milhões no reaparelhamento dos serviços, segundo dados do governo do Pará. Além disso, o Ministério da Justiça informou que ao todo serão enviados 250 homens da Força Nacional para dar suporte à polícia local, com 50 carros e três helicópteros. Em 2008, foram destinados R$ 70 milhões ao estado como parte das ações da Força Nacional. O governo também conseguiu liberar todos os participantes estrangeiros do Fórum do pagamento de taxas nos aeroportos.
Graça Costa, do Comitê Organizador do FSM, disse que ainda faltam acertos nos bairros pobres que cercam as universidades. Parte das obras não tinha sido concluída até a última semana: "Talvez tenhamos alguns problemas, mas nada incontornável. A parceria com os governos nos agradou muito, principalmente porque o FSM deixará a cidade muito melhor".
Segundo a Secretaria-Geral da Presidência da República, os gastos são justificáveis porque é o mais importante evento da sociedade civil internacional, e o governo brasileiro considera importante apoiá-lo pelo seu compromisso com as transformações econômicas, sociais e políticas necessárias ao Brasil e ao mundo.
A Secretaria-Geral argumentou que o governo brasileiro tem participado do FSM desde sua primeira edição, em 2001, "sempre respeitando a autonomia do evento, que é uma iniciativa dos movimentos sociais e das ONGs". Vários dirigentes e técnicos do governo participarão em diversas áreas. O governo do Pará, comandado por Ana Júlia Carepa (PT), vai gastar pelo menos mais R$ 10 milhões com o evento. A governadora foi procurada para comentar a estruturação do FSM, mas se recusou a atender às solicitações.
Além de convocar militantes e dirigentes, o PT está conclamando seus governantes para que também apoiem o FSM materialmente. O evento tem regras rígidas para os partidos: só podem participar como observadores e nunca como articuladores. Mas o PT tem um membro da executiva no Conselho Internacional, Renato Simões.
Fundo do Fórum pagará vinda de pobres do mundo todo
Graças ao apoio dos governos federal e estadual, ambos petistas, o Fórum Social Mundial criou um fundo de solidariedade para custear viagens de caravanas de comunidades pobres de todo o mundo que participarão do evento em Belém. Cerca de 3.000 pessoas terão viagens patrocinadas pelo FSM. Com orçamento inicial de R$ 28,5 milhões, o FSM espera arrecadar cerca de R$ 6,5 milhões, somados os recebimentos de inscrições e doações de instituições civis.
No Brasil, os principais patrocinadores serão a Caixa Econômica Federal (R$ 400 mil), o Banco do Brasil (R$ 150 mil) e a Sudam (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia, com R$ 150 mil). Entre os estrangeiros, o principal patrocinador é a Oxfam Novib (500 mil, ou R$ 1,7 milhão), além da Action Aid (US$ 150 mil ou R$ 320 mil), de igrejas católicas e evangélicas e fundos como o Fundo Catalão de Solidariedade (100 mil ou R$ 330 mil).
Mais da metade da arrecadação prevista, cerca de R$ 3,7 milhões, vai para o fundo de solidariedade, que custeará caravanas fluviais e rodoviárias de indígenas, quilombolas e ribeirinhos de toda a Amazônia e até passagens aéreas da Austrália e da África. O restante do dinheiro é gasto em traduções e logística.
(O Globo)
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