A Polícia Federal está se transformando no maior parceiro do Ministério do Meio Ambiente no combate ao desmatamento e a delitos contra a natureza. Ao priorizar a Amazônia e a faixa de fronteira mais desguarnecida como áreas a serem ocupadas em 2009, o órgão passou a falar a mesma linguagem dos conservacionistas. "Vamos proteger os biomas", disse o diretor geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, ao anunciar que as regiões amazônica e pantanal perceberão a presença do Estado com novas delegacias.
Em Corumbá, coração do Pantanal e fronteira com a Bolívia, a PF vai construir um grande centro para sediar suas atividades. Ao contrário das sedes regionais e delegacias no interior – todos projetados em alvenaria – usará a madeira apreendida no transcorrer de 2008 durante a Operação Arco de Fogo, que englobou vários estados da Amazônia Legal. Destinada a conter o desmatamento e demais crimes ambientais, a operação fechou o ano com a apreensão de 32.343 metros cúbicos de madeira ilegalmente arrancados das matas e armazenados em serrarias do Pará, Rondônia e Mato Grosso
Treinamento
Preocupada com o novo modelo de gestão, o órgão está deslocando para Amazônia e fronteira todos os novos policiais formados na Academia da PF em Brasília. Na semana passada, 430 deles receberam a missão de iniciar as atividades em 2009 nesses locais. Acabou a era em que delegados e agentes podiam escolher Copacabana ou as regalias da capital paulista. "Nenhum novo policial será lotado no Rio, São Paulo ou em outros centros urbanos. Eles passarão três anos se capacitando e suportando adversidades. Vão amadurecer com a rusticidade que só a Amazônia e a fronteira dão", avisou Luiz Fernando Corrêa.
Desguarnecida, a região virou palco de grilagem de terras e de uma série de crimes, como o tráfico de drogas e de armas, contrabando de madeira e minério e, como subproduto do descaso, alvo de cobiça internacional. A ausência de instituições fortes estimulou o surgimento de focos de conflitos de toda ordem e deixou a área nas mãos de ONGs que, apesar do apelo e do pretexto, nem sempre agem na defesa da ecologia.
O caos começou a ser mudado com a Operação Arco de Fogo, coordenada pela Polícia Federal e com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). Seu resultado ilustra a carência de um aparato de repressão aos crimes contra a natureza: além dos 32,3 mil metros cúbicos de madeira, foram abertos 112 inquéritos policiais, 72 pessoas foram presas em flagrante, 434 serras ilegais foram multadas e 1.085 fornos clandestinos de carvão acabaram destruídos. A polícia também apreendeu 33 armas de fogo, 39 motosserras e 132 veículos.
No período da operação foram lavrados 322 termos circunstanciados, destinados a coibir crimes de menor potencial ofensivo. Em vez de só reprimir, a Polícia Federal agregou à sua atuação na região palestras em escolas das comunidades que se tornaram alvo da Arco de Fogo. Num novo enfoque, criou o Programa de Neutralização, destinado a repor à natureza o carbono emitido em função de suas atividades. Foram plantadas cerca de 27 mil mudas este ano, para corrigir as emissões de 2007.
O delegado Luiz Fernando Corrêa diz que a nova missão da Polícia Federal é combater o crime em todas as escalas. O reforço da estrutura na Amazônia, segundo ele, terá efeito imediato na diminuição dos crimes ambientais. Nas regiões de fronteira o alvo é o tráfico de cocaína e de armas. As estatísticas de 2008 da Polícia Federal apontam um aumento considerável na quantidade de droga apreendida, a maior parte destinada a quadrilhas encarregadas de abastecer o mercado interno, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), organização estruturada dentro e fora dos presídios.
Foram quase 20 toneladas de cocaína, sem contar o volume apreendido pelas polícias estaduais que, no mínimo, dobraria a quantidade. O ponto e passagem mais visado pelo PCC atualmente é a fronteira com a Bolívia, especialmente a região de Corumbá, onde a PF reforçará sua estrutura no início do ano que vem.
(Vasconcelo Quadros, Jornal do Brasil)
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